O conceito de sebastianismo
prende-se com a ideologia messiânica que atravessou de
forma singular a história portuguesa desde o século XVI,
consistindo na crença no advento iminente de um rei
libertador.
D. Sebastião
tinha desaparecido na batalha de Alcácer Quibir
e o povo português não acreditava (ou os
responsáveis pelo poder fizeram-no não
acreditar) que um rei tão jovem e tão desejado
(daí o cognome de O Desejado)
tivesse morrido nessa batalha. Alimentou-se o
suposição de que estava ainda vivo e de que
voltaria ao reino, numa manhã de nevoeiro,
montado num cavalo branco (deste modo se criava
um cenário mais fabuloso!...), para estabelecer
o direito e a justiça entre os povos oprimidos.
O "sebastianismo" converteu-se,
assim, em mito, na "esperança de melhores dias, de
felicidade nacional, de justiçam e de grandeza". O
regresso de D. Sebastião, o bom rei Encoberto,
seduziu, pois, muita gente que via nessa crença a
esperança de salvação da Pátria.
O sebastianismo, todavia, não foi apenas
a fé no regresso de D. Sebastião, sobrevivente de
Alcácer Quibir, mas englobava um conjunto de temas messiânicos
sucessivamente reelaborados em contextos de crise e de
indefinição política. Formulado pela primeira vez nas
Trovasdo sapateiro Gonçalo Anes (o Bandarra),
em meados do século XVI, o mito de um rei Encoberto,
salvador, reapareceu durante o período filipino na sua
forma sebástica, sendo em vários momentos encarnado por
figuras que se fizeram passar por D. Sebastião (o «rei
de Penamacor», o «rei da Ericeira», o «Calabrês»).
Após a Restauração, o padre
António Vieira
continuou a divulgar os textos do Bandarra e ampliou a
profecia à ideia de um Quinto Império Português, em que
se cruzavam temas históricos e bíblicos. Depois de D.
João IV, o rei Encoberto foi sucessivamente identificado
com D. Afonso VI, D. Pedro II e D. João V, reaparecendo
no contexto das invasões francesas e no miguelismo.
Como tema popular, o sebastianismo
assumiu enorme importância, como já foi dito, dando
expressão a um desejo persistente de libertação da
miséria e opressão quotidianas. Até aos nossos dias, a
mística nacional-sebastianista, com traços saudosistas e
decadentistas, foi integrada na chamada «filosofia
portuguesa» e entrou no pensamento e nas obras de
figuras como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Teixeira
de Pascoaes e Fernando Pessoa, entre outros.