Sacerdote e orador português, partiu para o Brasil com a família aos seis anos
de idade. Frequentou o Colégio dos Jesuítas, na Baía, tendo ingressado na
Companhia de Jesus em 1623.
Ordenado sacerdote em 1635, já então proferira
alguns sermões e se iniciara na catequização dos indígenas. Em 1641, viajou para
Portugal, integrando a comitiva de reconhecimento e homenagem ao novo monarca,
D. João IV.
Veio a conquistar a estima do rei,
que o fez seu confessor, conselheiro e pregador da corte, e o encarregou
de algumas embaixadas na Europa. Ocupou, assim, um lugar de destaque na
vida do país; a sua intervenção na política nacional através da
actividade de pregador, que se saldara já por
denúncias e críticas
à injustiça e à
corrupção de colonos e administradores no Brasil,
prosseguiu então, com o estímulo do combate à Coroa
espanhola.
Tal passaria,
segundo Vieira, pela moderação da perseguição inquisitorial aos cristãos-novos,
de forma a salvaguardar os capitais destes e a sua contribuição para a guerra de
independência. Tal posição valeu-lhe alguns ódios e o rancor da Inquisição. A
sua luta em prol dos direitos dos índios brasileiros originou também reacções
por parte dos colonos: de regresso ao Brasil, em 1652, Vieira foi portador de um
decreto de libertação dos índios. Foi esta a sua fase de mais intensa acção
evangélica. Entretanto, morto D. João IV, seu protector, e tendo deflagrado
conflitos entre os colonos e os missionários, estes últimos foram expulsos do
Maranhão. Vieira, entre outros, foi levado, em 1661, como prisioneiro para
Lisboa.
António Vieira
foi, que se saiba, o primeiro escritor a
profetizar o Quinto Império Português.
Data do ano seguinte o seu " Sermão da Epifania", constituindo uma defesa dos
missionários e um ataque aos colonos. Apoiante de D. Pedro, foi perseguido pelos
partidários de
D. Afonso VI. Entretanto, a Inquisição, acusando-o de heresia, instaurou-lhe um
processo e prendeu-o, entre 1665 e 1667. As acusações dirigiam-se à crença
messiânica e visionária de Vieira.
Apoiado nas "Trovas" do Bandarra e nas
Sagradas Escrituras, profetizava a ressurreição de D. João IV, a quem caberia a
concretização do Quinto Império Português, que coincidiria com o reino de Cristo
na Terra.
Entre 1669 e 1675 permaneceu em
Roma e, de volta a Lisboa, iniciou a publicação dos seus
Sermões. Regressou à Baía em 1581, tendo sido superior
das missões do Brasil e Maranhão e, ainda, visitador do
Brasil (1688).
A obra de António Vieira, de que é
indissociável a sua intensa acção como homem público, compõe-se de
cerca de 200 sermões, mais de quinhentas cartas e uma série de
documentos vários, de política, diplomacia, profecia, religião, etc.
Neles demonstra uma profunda capacidade de análise e denúncia dos
vícios humanos, com grande realismo e inteligência implacável na sua
acção moralista. Simultaneamente, Vieira foi o visionário do Quinto
Império, o idealista utópico e profético de um messianismo em que
que se conjugavam as crenças sebastianistas tradicionais e as
crenças messiânicas de origem judaica.
Considerado
frequentemente um dos paradigmas da prosa clássica portuguesa, foi o maior
orador sacro da literatura do país e, simultaneamente, um dos maiores
apologistas do messianismo nacional, que justificava todo o seu empenho na
valorização e reforma da economia e na força política do país.
(in História Universal de Portugal, Texto Editora)