Filho do embaixador de Portugal na
corte
austríaca, António
Ambrósio Freire de Andrade e Castro, e da condessa
austríaca,
Elisabeth von
Schaffgostsch, o general
Gomes Freire de Andrade nasceu em 27 de Janeiro de 1757
e teve uma educação que na época se costumava dar aos
filhos da nobreza.
O
casal Ambrósio e Elisabeth, cujos primos
direitos
eram os primeiro e segundo condes de Bobadela e
uma aristocrata
alemã da Boémia – Morávia Gomes Freire de
Andrade,
além
de Gomes Freire teve ainda uma filha de nome
Teresa.
Gomes
Freire tinha o mesmo nome que o avô paterno, que
também foi general e pacificador do sul do
Brasil, sendo família, como vimos, dos Condes de
Bobadela e tendo ainda parentesco com os
Marqueses de Minas.
Embora
tenha herdado do avô materno os apelidos de
Pereira e Castro (quase nunca fazendo uso
deles), o progenitor de Gomes Freire era parente
amigo e auxiliar do Marques de Pombal.
Com 24 anos de idade, Gomes Freire
de Andrade é enviado para Portugal, em Fevereiro de
1781, pela mão do embaixador de Portugal em Viena,
o conde de Oyenhausen e de suamulher, D.
Leonor de Almeida Portugal, a célebre poetisa, que
ficará conhecida como marquesa de Alorna.
Já tinha , na altura, o grau
de Cavaleiro da Ordem de Cristo e, veio destinado à
carreira militar, começando por assentar praça de cadete
no regimento de
Peniche. Em
1782,
foi promovido a alferes. Posteriormente, entra para a
Armada Real, integrando a esquadra que, em
1784,
foi auxiliar as forças navais espanholas de Carlos III
no bombardeamento de
Argel.
Desejoso de ascender mais
rapidamente na hierarquia militar, aproveitou a guerra
da Rússia contra o Império Otomano, e a assinatura do
tratado de Amizade e Aliança entre Portugal e a Rússia,
para se propor como voluntário para o exército russo, na
guerra empreendida pela imperatriz Catarina e dirigida
pelo célebre general Potemkine, conflito que terminará
com a conquista da Crimeia pela Rússia.
Segundo parece, durante
este conflito, e na esquadra do
príncipe de Nassau,
salva-se milagrosamente durante a
batalha naval de Schwensk,
quando os canhões suecos fazem ir a pique a
"bateria flutuante" que ele comandava. Perdeu-se
toda a tripulação, mas Gomes Freire conseguiu
salvar-se, acabando por receber o hábito de São
Jorge, uma das Ordens mais importantes da
Rússia, das
mãos do príncipe de Nassau, em nome da
imperatriz.
Houve rumores de
simpatia e entusiasmo da czarina por Freire de
Andrade, aparentemente confirmado pelas
desinteligências entre ele e o príncipe de
Potemkin, favorito conhecido.
Inicialmente major, rapidamente
subiu os postos do exército russo, e as sucessivas
promoções sempre foram confirmadas em Portugal, pelo que
quando chega a Portugal em 1793 já tinha o título de
coronel, desde 1790, do Regimento da guarnição de
Lisboa, anteriormente comandado pelo marquês das Minas e
que passará a ser conhecido a partir daquele momento
como o Regimento «de Freire».
Já como comandante da brigada de
granadeiros segue para a Catalunha, na divisão que
Portugal enviava a auxiliar a Espanha contra a República
francesa. Nesta expedição iam estrangeiros no
Estado-Maior: o duque de Northumberland, general e par
de Inglaterra, o príncipe de Luxemburgo Montmorency, o
conde de Chalons, o conde de Liautaud. O Regimento de
Freire de Andrade e o de
Cascais ocuparam a
povoação de Rebós, na sua linha de batalha, correndo
logo às trincheiras da ponte de Ceret, onde o exército
espanhol estava a ponto de capitular. O Regimento de
Gomes Freire ter-se-á portado galhardamente, tirando o
seu comandante, com certeza, proveito da sua experiência
militar contra os otomanos, mas também contra os
franceses, que combateu na sua passagem pela frente de
guerra entre a Prússia e a França, na fronteira
setentrional da França.Em
Arles, acamparam, em
quartéis de Inverno, seu Regimento e o de Cascais, que
constituíam a 2° Brigada, comandada por ele. Segundo
Latino Coelho, começa
aí a evidenciar-se o espírito indisciplinado e
irrequieto de Gomes Freire; desordeiro e intrigante, "o
ânimo altivo do coronel, avesso, como era a toda a
sujeição, difundia na divisão auxiliar o fermento da
indisciplina".
Apesar das vitórias do exército
hispano-português sobre os republicanos da Convenção, a
guerra do Roussillon ia produzir efeitos nefastos: os
espanhóis tinham 18 mil feridos em hospitais e os
portugueses mil homens fora de combate, enquanto os
franceses recebiam constantes reforços. Em
29
de Abril de
1794,
o general Dugommier atacou a esquerda do exército
espanhol, composta de corpos da divisão portuguesa, a
qual sustentou o fogo do romper da manhã às 14 h,
salvando o exército espanhol.
Em 1807, ocupando, então, o posto
de tenente-general, durante a primeira invasão francesa,
foi encarregue do comando da divisão que defendia a
margem Sul do Tejo e Setúbal, contra um ataque
britânico. Recebeu o general Solana em Setúbal,
aceitando o encargo de desmobilizar a parte do exército
português aquartelado no Sul do país e desarmar os
regimentos de milícias. A colaboração com os ocupantes
espanhóis e franceses, fê-lo ser nomeado para 2.º
comandante do exército português, reformado de acordo
com os regulamentos franceses, que se dirigiu em Abril
de 1808 para França, onde foi integrado no exército
francês com o título de Légion Portugaise.
Em Espanha, ainda combateu a
insurreição espanhola contra os invasores franceses,
sendo enviado com algumas tropas portuguesas para o
cerco de Saragoça. Voltou a França com as tropas
portugueses do seu comando, dirigindo-se para Grenoble,
guarnição da Legião em França.
Novamente em Portugal, veio a
integrar a "Legião
Portuguesa" criada por
Junot e que, sob o comando do
marquês de Alorna,
partiu para França em Abril de
1808,
onde vem a ser recebida por Napoleão Bonaparte, no dia 1
de Junho. Participou na campanha da Rússia.
Libertado Portugal da ocupação das
tropas francesas, e após a derrota de Napoleão, Freire
de Andrade está de novo em a Portugal, onde vem a ser
Grão-mestre da Maçonaria. Veio a ser acusado de liderar
uma conspiração contra a monarquia de
João
VI, em Portugal
continental representada pela Regência, então sob o
governo militar britânico de
William Carr Beresford.
Foi detido e enforcado por crime de traição à pátria
juntamente com outras onze pessoas (o coronel Manuel
Monteiro de Carvalho, os majores José Campelo de Miranda
e José da Fonseca Neves e mais oito oficiais do
Exército), embora não esteja provada a sua participação
activa na conspiração de 1817 contra Beresford e os
governadores do reino.
O enforcamento ocorreu em frente à
fortaleza de São Julião da Barra, em 18 de Outubro de
1817. Na condenação de general pontificou o seu primo
Miguel Pereira Forjaz, a quem ele se tinha sempre
oposto, desde o Rossilhão até às campanhas de 1808, e
com quem tinha convivido desde os quartéis do regimento
de Peniche.
Após o julgamento e execução do
tenente-general e dos outros atrás referidos,
Beresford deslocou-se
ao Brasil para pedir mais poderes. Havia pretendido
suspender a execução da sentença até que fosse
confirmada pelo soberano, mas a Regência (os
governadores do reino), "melindrando-se de semelhante
insinuação como se sentisse intuito de diminuir-se-lhe a
autoridade, imperiosa e arrogante ordena que se proceda
à execução imediatamente".
Este procedimento da Regência e de
Lord Beresford, comandante em chefe
britânico do
Exército português e
regente
de
facto do reino de
Portugal, levou a protestos e intensificou a tendência
anti-britânica, o que conduziu o país à
Revolução do Porto e à
queda de Beresford (1820), impedido de desembarcar em
Lisboa ao retornar do Brasil, onde conseguira de D. João
VI maiores poderes.
Durante a República o dia da sua
morte do General Gomes Freire de Andrade foi feriado
nacional.