Ex-soldado, afastado do exército
por falta de serventia,
agora um rufia, afirma-se
como o representante dos sem-abrigo, da mendicidade, dos
rejeitados, numa cidade onde imperam as desigualdades
sociais. Trava conhecimento com Baltasar, quando este
chega a Lisboa, de regresso da Guerra da Sucessão de
Espanha, com quem
partilhará a dormida debaixo de um telheiro.
A Baltasar, João Elvas desvenda toda a violência e
criminalidade que grassam na capital portuguesa
(irónica e curiosamente contadas
por ex-presidiários), sendo as mulheres e os
desprotegidos as suas maiores vítimas – "Isto é terra
de muito crime, morre-se mais que na guerra" (pág.
45).
Esta personagem refere-se ao Padre
Bartolomeu Lourenço como o Voador.
Mais tarde, acompanha o
cortejo nupcial até ao rio Caia,
fronteira com Espanha, seduzido pelo espectáculo do
desfile e pelo aparato militar – "Claro está que João
Elvas não vai de coche nem a cavalo". Deixou Lisboa
e passou Aldegalega "nos primeiros dias deste mês de
janeiro de mil setecentos e vinte e novee ali se
demorou assistindo ao desembarque das carruagens e
cavalgaduras que vão servir no caminho" (pág. 311).
Chega, inclusive, a ajudar retirar a carruagem da rainha
a sair dum atoleiro.
A PRINCESA MARIA
BÁRBARA
Maria Bárbara Xavier Francisca
Leonor Bárbara, filha de D. João V e de D. Maria Ana
Josefa, nasceu em
Lisboa,
a
4 de Dezembro
1711
e veio a falecer em
Aranjuez,
em
27 de Agosto
1758.
Foi por causa do seu nascimento que o rei fez voto de
construir o Convento de Mafra. Curiosamente, porém,
a infanta sai do país, para
se casar com o futuro rei D. Fernando VI, de Espanha,
sem conhecer o convento edificado para agradecer o seu
nascimento – "aqui estou eu indo para Espanha, donde não
voltarei, e em Mafra sei que se constrói um
convento por causa de voto em que fui parte, e
nunca ninguém de cá me levou a vê-lo" (pág.
326). Também foi para ela ser cultivada na arte
musical que o rei contrata o músico italiano Domenico
Scarlatti.
Saramago não nos apresenta uma
imagem física muito positiva da princesa ao longo da
obra. No capítulo XXII, quando ela se desloca para
Espanha, no cortejo nupcial, diz-nos que Maria
Bárbara tem 17 anos feitos, cara de lua cheia, bexigosa,
mas que é boa rapariga e sabe música... Era uma senhora
de grande cultura, porém.