Baltasar Mateus é um dos membros do casal protagonista
da narrativa. De alcunha Sete-Sóis, deixa o exército
depois de ter ficado maneta, perdendo a mão esquerda, na
Guerra da Sucessão de Espanha (1704-1712), passando a encarnar a
crítica do narrador à desumanidade da guerra.
Conhece
Blimunda em Lisboa e com ela partilha a vida e os
sonhos. De ex-soldado passa a açougueiro em Lisboa;
depois, a construtor da passarola; e, posteriormente,
integra o contingente de operários das obras do
convento. A sua tarefa máxima vai ser a construção da
passarola, idealizada pelo padre Bartolomeu de Gusmão,
passando a ser o garante da continuidade do projecto,
quando o padre Bartolomeu desaparece em Espanha.
Baltasar acaba por se constituir como a personagem
principal do romance, sendo quase "divinizado" pela
construção da passarola: "maneta é Deus, e fez o
universo. (...) Se Deus é maneta e fez o universo, este
homem sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de
voar." (pág. 69) – diz o padre Bartolomeu, a propósito do
seu companheiro de sonhos.
Após a morte do padre, Baltasar ocupa-se da passarola e,
um dia, num descuido, desaparece com ela nos céus. Só é
reencontrado nove anos depois, em Lisboa, onde sucumbe
às mãos da Inquisição, queimado num auto-de-fé.
O simbolismo desta personagem
é evidente, a começar pelo
seu nome: sete é um número mágico, aponta para uma
totalidade (sete dias da criação do mundo, sete dias da
semana, sete cores do arco-íris, sete notas musicais,
sete pecados mortais, sete virtudes teologais...); o Sol é
o símbolo da vida, da força, do poder do conhecimento,
daí que a morte de Baltasar no fogo da Inquisição
signifique, também, o regresso às trevas, a negação do
progresso.
Baltasar transcende, então, a imagem do povo oprimido e
espezinhado, sendo o seu percurso marcado por uma aura
de magia, presente na relação amorosa com Blimunda, na
afinidade de "saberes" com o padre Bartolomeu e no
trabalho de construção da passarola.
Ver págs. 35-43, 56-57, 69, 248-249, 373, de
Memorial do
Convento, 36.ª ed., 2005.