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D. DINIS, O Lavrador (n. 1261 - m. 1325)

 

Nascido em Santarém e filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela, casou em 1282 com Isabel de Aragão, também conhecida como a Rainha Santa.

 

D. Dinis e a rainha Santa Isabel.

D. Dinis subiu ao trono em 1279, aquando da morte de seu pai. A situação política e económica em que o reino então se encontrava era difícil, em virtude da prolongada doença de seu pai, que havia impedido a cabal administração do território. Tentando revitalizar a vida económica do reino, D. Dinis procurou reorganizar a administração interna, elaborando todo um conjunto de leis baseadas na realidade política, económica e social do país, combinadas sempre com uma forte actuação humana.

Procurou também organizar a marinha e, sobretudo, consolidar as fronteiras nacionais, reconstruindo numerosos castelos e fortalezas que se encontravam em ruínas, para segurança do território. Normalizou assim as relações com Castela, estabelecendo-se entre D. Dinis e D. Fernando IV de Castela o tratado de Alcanizes (1297), pelo qual se procurava fixar a nossa fronteira de leste com a incorporação das praças alentejanas junto ao Guadiana.

 

O epíteto pelo qual ficou conhecido este rei, o Lavrador, deve-se a uma série de medidas que tomou com vista à protecção da agricultura, da pesca e do comércio, orientadas para o desenvolvimento das várias regiões. Promulgou vários forais com o intuito de beneficiar várias terras do interior, sobretudo relativamente ao seu povoamento e à sua colonização. No seu reinado deu-se também um grande incremento do comércio, tendo-se instituído as feiras francas, assim denominadas porque, durante a sua realização, os feirantes ficavam isentos do pagamento de direitos fiscais.

 

D. Dinis facilitou a circulação da propriedade, promoveu numerosos trabalhos de drenagem, alargando as plantações ao pinhal de Leiria, e concedeu também privilégios para a exploração de minas. Procurou ainda, através das inquirições, evitar as crescentes e abusivas usurpações sobre o património régio.

 

A actividade piscatória e salineira registou igualmente um grande incremento durante o seu reinado, com a fundação de numerosas póvoas marítimas e a promoção da construção naval.

D. Dinis procurou resolver um grave litígio com a Santa Sé, herdado do reinado de seu pai, enviando em 1279 uma embaixada a Roma, com o intuito de chegar à concórdia com o papa Nicolau III. Porém, a morte deste veio prolongar o conflito, que só se resolveria em 1289, no tempo de Nicolau IV, tendo-se então D. Dinis libertado das penas antes decretadas.

Este monarca nacionalizou as ordens militares, criando em 1315 a ordem de Cristo, destinada a manter a cruzada religiosa contra o infiel, e cuja fundação viria a ser confirmada pela bula papal de Março de 1319 Ad ea ex quibus. Esta nova ordem militar viria a ter uma enorme projecção no reino, sobretudo na fase da expansão ultramarina.

 

O final do reinado de D. Dinis foi marcado por violentas guerras familiares, primeiro com o seu irmão (D. Afonso) e depois com o seu filho herdeiro (D. Afonso IV) e o seu filho bastardo (D. Afonso Sanches). Nestas guerras sobressaiu a figura da rainha D. Isabel, que contribuiu, decisivamente, como medianeira em várias diligências, para restabelecer a paz entre os contendores.

 

D. Dinis ficou também conhecido como o rei letrado, devido às suas composições poéticas, com as quais contribuiu para manter a chama trovadoresca entre nós.

A ele se deve a fundação do Estudo Geral Português, em Lisboa (1290), onde se leccionavam artes, cânones, leis, medicina e teologia. Durante o seu reinado, os documentos oficiais passaram a ser escritos em língua portuguesa, e D. Dinis ordenou ainda a tradução de obras de renome como as Sete Partidas (conjunto de leis de D. Afonso X, o Sábio) e a Crónica do Mouro Rásis.

 

Finalmente, iniciou-se no seu reinado a construção do mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra.

 

Mais informações:

 

Sexto rei de Portugal, filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela, nasceu a 9 de Outubro de 1261 e faleceu em 1325. Foi aclamado rei em Lisboa, em 1279, tendo governado durante 46 anos. Casou em 1282 com D. Isabel de Aragão (a rainha Santa Isabel); a rainha teria também um papel importante ao longo deste reinado, não só pelas suas acções de caridade mas, sobretudo, pela sua actuação ao lado do rei na política externa, e entre ele e o filho aquando das lutas entre ambos.

 

Foi o primeiro rei a não ter que se preocupar com a expansão territorial. Procurou lutar contra os privilégios que, de alguma forma, iam contra a sua autoridade. Em 1282 estabeleceu que todas as apelações de quaisquer juízes só poderiam fazer-se para o rei. Recorreu a inquirições em 1284, tendo havido outras ao longo do seu reinado. Procurou um acordo com a Igreja, acordo que viria a ser estabelecido por concordata em 1290. Proibiu às Ordens e aos clérigos a aquisição de bens de raiz, mas procurou também defender a Igreja dos abusos resultantes do sistema do padroado.

 

Apoiou os cavaleiros da Ordem de Sant'Iago ao separarem-se do seu mestre castelhano, e salvou a dos Templários em Portugal, dando-lhe nova existência sob o nome de Ordem de Cristo.

Entrou em guerra com Castela em 1295, a qual só veio a terminar pelo Tratado de Alcanizes, lavrado na vila castelhana do mesmo nome em 12 de Setembro de 1297. Por este tratado previa-se uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas. Foram também estabilizadas as fronteiras em zonas nevrálgicas como a Beira e o Alentejo, com excepção de pequenas áreas que rapidamente se viriam a integrar no reino.

 

Desenvolveu as feiras, criando as chamadas feiras francas ao conceder a várias povoações diversos privilégios e isenções. Protegeu as exportações para os portos da Flandres, Inglaterra e França; em 1308 celebrou um tratado de comércio com o rei de Inglaterra e instituiu definitivamente a marinha portuguesa.

 

Foi, no entanto, a agricultura que mais o interessou ( daí o seu cognome, " O Lavrador"). Procurou interessar toda a população na exploração das terras, facilitando a sua distribuição. No Entre Douro e Minho dividiu as terras em casais, cada casal vindo mais tarde a dar origem a uma povoação. Em Trás-os-Montes o rei adoptou um regime colectivista; as terras eram entregues a um grupo que repartia entre si os encargos, determinados serviços e edifícios eram comunitários, tais como o forno do pão, o moinho e a guarda do rebanho. Na Estremadura a forma de povoamento dominante foi a que teve por base o imposto da jugada; outros tipos de divisão foram também utilizados, como, por exemplo, a parceria.

 

Ele próprio poeta, D. Dinis deu também um grande impulso à cultura. Ordenou o uso exclusivo da língua portuguesa nos documentos oficiais. Fundou em Lisboa, em 1290, um Estudo Geral (Universidade) no qual foram desde logo ensinadas as Artes, o Direito Civil, o Direito Canónico e a Medicina. Mandou traduzir importantes obras, tendo sido a sua Corte um dos maiores centros literários da Península.


(in Diciopédia 99, Porto Editora)

 

 

 

Publicado por

Joaquim Matias da Silva

 

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