Camilo Castelo Branco
Fernando Pessoa
José Saramago
Sttau Monteiro
Outros
Outros Autores

 

ATOS ILOCUTÓRIOS - Tipologia

 

 

ASSERTIVOS

 

O locutor assume, em maior ou menor grau, a verdade ou a falsidade dos enunciados que profere. Esses enunciados podem, portanto, ser submetidos ao teste do verdadeiro ou falso. Entram na categoria de assertivos verbos como «afirmar», «sugerir» ou «colocar uma hipótese», distinguindo-se entre si pelo grau de comprometimento do locutor.
Exemplos: Parto para a Austrália na próxima semana; José Saramago foi Prémio Nobel da Literatura em 1998; A Maria fez o almoço; O dia amanheceu cinzento; Discordo.

 

DIRETIVOS

 

Nesta categoria incluem-se atos que demonstram uma vontade ou desejo do locutor em levar o interlocutor a realizar uma ação. Podem traduzir-se em sugestões, ordens, avisos, pedidos, perguntas (em que esteja subjacente a ideia de pedido), etc. Por isso, atos como «convidar», «pedir», «requerer», «ordenar», «suplicar» «obrigar» ou «avisar», embora difiram pela natureza própria de cada um, ilustram esta tipologia. É importante salientar que, em relação a «obrigar»/«proibir», «ordenar» e «querer», deverá haver uma condição preparatória adicional segundo a qual o locutor tem que estar numa posição de autoridade em relação ao interlocutor.


Exemplos: Quero esse trabalho terminado dentro de meia hora; Venham passar o fim-de-semana comigo a Lisboa!; Seria melhor fazeres o exame; Despacha-te; O que pensas deste assunto?; Queres vir à festa?; Fechas-me a janela?


Os atos ilocutórios diretivos podem, pois, basear-se em frases imperativas; em verbos diretivos (
aconselhar, avisar, convidar, esperar, exigir, implorar, lembrar, mandar, obrigar, ordenar, pedir, proibir, querer, requerer, suplicar…); em frases complexas com verbos de inquirição como perguntar, interrogar, inquirir, investigar…; e em simples interrogações ou perguntas. Estas últimas inserem-se nesta subclasse, dado que indiciam tentativas do falante para que o seu interlocutor faça alguma coisa: dê uma resposta.

 

COMPROMISSIVOS

 

Atos que vinculam o locutor à realização de uma ação futura que poderá afectar o interlocutor de um modo positivo (no caso da promessa) ou de um modo negativo (no caso da ameaça).
Os acos ilocutórios compromissivos podem construir-se com base em verbos compromissivos (
comprometer-se, jurar, prometer, garantir, assegurar, afiançar, tencionar), em frases simples com utilização do futuro ou presente do indicativo; e em expressões elípticas.

 

Exemplos: Ligo-te amanhã. [Prometo que te ligo amanhã.]; Eu vou; Prometo que estudarei mais; Exijo um bom comportamento; Encontro-te à saída.
 

 

EXPRESSIVOS

 

Expressam estados psicológicos do locutor relativamente ao interlocutor e a um estado de atitudes especificado. Assumem, muitas vezes, valores judicativos e valorativos. Fazem parte do paradigma destes atos verbos ilocutórios expressivos como: «agradecer», «congratular-se», «adorar», «gostar», «lamentar», «deplorar», «odiar», «pedir desculpa», «dar boas-vindas», «apresentar condolências», «felicitar» …; expressões verbais com advérbios que criam universos de referência, como «achar bem», «achar mal» …; e expressões exclamativas com adjetivos valorativos, advérbios e verbos experenciais, expressivos ou afetivos.

O ato de «agradecer» apresenta como conteúdo proposicional um ato passado feito pelo interlocutor em benefício do locutor que, por tal, expressa gratidão ou apreço.


Exemplos: Lamento profundamente tudo o que te aconteceu; Parabéns! A reunião correu bem!; Os meus pêsames!; Estás linda!; Bom dia!

 

  DECLARATIVOS

 

Atos de fala que criam um estado de coisas novo pela realização simples de uma declaração – dizer é fazer (criar a própria realidade). Tal declaração altera o estado de coisas envolvente: alguém fica baptizado, alguém deixa de ser solteiro para assumir o estatuto de casado, por exemplo.
Para que a realização dos atos declarativos seja bem sucedida é necessário que o enunciado, além de obedecer às regras linguísticas, surja inscrito numa específica instituição extralinguística, como a igreja, o tribunal, o estado, dentro da qual o locutor e o interlocutor desempenham papéis sociais preestabelecidos (o padre perante os noivos, por exemplo).
Frases ou expressões que atualizam os atos declarativos constroem-se a partir de verbos declarativos (
declarar, nomear, indigitar…) e de frases declarativas.


Exemplos: «Baptizo este barco com o nome de...»; «
Declaro-vos marido e mulher.» (Só é uma declaração se o enunciado for proferido pelo oficial de registos ou pelo padre); «Está aberta a sessão» (É uma declaração, se o enunciado for proferido pela pessoa que preside à sessão).
 

DECLARATIVOS ASSERTIVOS


Dentro dos atos declarativos circunscrevem-se, numa classe autónoma, os assertivos que, como os atos de declarar alguém inapto para o serviço militar, ou alguém excluído de um concurso, reúnem os objectivos ilocutórios de asserções e de declarações. Nestes casos, o locutor, que está investido de uma autoridade específica, é responsável pela tomada de decisões, como as do árbitro num jogo de futebol ou um chefe de secção numa empresa, ou seja, o locutor, pelo seu estatuto social ou profissional, está em condições de criar uma nova realidade (como nos atos declarativos ou declarações), mas surge directamente implicado na verdade do enunciado que produz.
 

Exemplos: É a resposta do João que está certa. (É uma declaração assertiva se o enunciado for proferido, por exemplo, por um professor.); É fundamental que deixe de fumar. (É uma declaração assertiva se pronunciada por um médico e o paciente lhe reconhecer autoridade.
 

INDIRETOS


Num ato ilocutório indireto, o locutor quer dizer algo diferente daquilo que expressa em sentido literal, contando com as capacidades inferenciais do interlocutor para o reconhecimento da sua intenção ou objetivo ilocutório. Os enunciados «Passas-me os talheres?», «Importas-te de me passar o azeite?», ou «Pode dizer-me como se chama este sítio?», apesar do seu formato interrogativo (que poderiam realizar um ato ilocutório de pergunta), devem antes serem entendidos como um pedido (ato ilocutório indireto).

O mesmo se passa com a frase «Será que vocês gostariam de vir passar o fim-de-semana comigo?», em que a pergunta realiza um convite.
Para a desmontagem do mecanismo dos atos ilocutórios indiretos, o interlocutor recorre ao que Grice denomina implicatura conversacional, na qual intervém um conjunto de saberes diferenciados, tais como os que se relacionam com as informações enciclopédicas / conhecimento do mundo (saber compartilhado), com o conhecimento relativo aos atos ilocutórios e com os princípios reguladores da interação discursiva (princípio de cooperação, princípio de cortesia)
.
 

Joaquim Matias da Silva

Voltar

Início da página

 

© Joaquim Matias 2012

 

 

 

 Páginas visitadas