Já foi afirmado várias vezes que o Amor de Perdição
é uma novela. Vejamos, pois, algumas diferenças entre
ela e o romance.
No romance, tenta-se afrouxar a ação, combinar
elementos heterogéneos, desenvolver e ligar episódios,
criar centros de interesse diferentes, conduzir intrigas
paralelas. O seu final é um momento de enfraquecimento,
não de reforço. O ponto culminante da ação principal
deve encontrar-se em qualquer lado antes do fim. É por
isso que é natural que um fim inesperado seja um
fenómeno muito raro no romance.
Na novela, pelo contrário, tudo tende para a conclusão,
devendo os acontecimentos progredir com impetuosidade,
tal qual como um projétil que é lançado de um avião,
visando um determinado objetivo. A narrativa refere
linearmente os momentos decisivos da ação, em
detrimento da análise de carateres e ambientes e daqui
decorrem várias e caraterísticas:
- As motivações das personagens não são analisadas na
sua origem e desenvolvimento;
- As suas personalidades ficam incompletamente
esboçadas;
- A economia da obra apoia-se, por vezes, em
coincidências que lesam a verosimilhança;
- A importância do diálogo e a escassez de descrições
(de figuras, de ambientes, de paisagens).
Numa imagem final bem sugestiva, comparar-se-á o romance
a um rio que corre em direção ao mar, recebendo águas
dos seus vários afluentes (histórias paralelas e/ou
complementares) e ultrapassando quedas, que fazem com
que o rtimo ora acelere ora seja mais calmo, até chegar
tranquilamente à foz onde desagua. Por sua vez, a novela
pode ilustrada simbolicamente pela escalada de uma
colina, cuja finalidade é oferecer-nos a vista que, do
cimo, se oferece, repentinamente, ao nosso olhar
extasiado.