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MEMORIAL DO CONVENTO - Sequências narrativas

 

Capítulo

SEQUÊNCIAS NARRATIVAS Págs.

XXV

 

* Durante nove longos anos, Blimunda procura o seu amado Baltasar. É todo um ciclo de demanda desesperada da recuperação da sua união perdida que está prestes a fechar-se: "Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar" (pág. 369).

 

* De forma peregrina, Blimunda lançou por todo o lado "um fermento" de desassossego, ao contar a sua estranha história – "Milhares de léguas andou Blimunda, quase sempre descalça, a sola dos seus pés tornou-se espessa, fendida, como uma cortiça. Portugal inteiro esteve debaixo desses passos, algumas vezes atravessou a raia de Espanha, porque não via no chão qualquer risco a separar a terra de lá da terra de cá" (pág. 358).


* Depois de calcorrear milhares de quilómetros, ao frio, ao calor, com fome, com sede, em desespero, porque a esperança esvaía-se paulatinamente, misturada com as lágrimas que já com dificuldade brotavam dos seus olhos baços, finalmente Blimunda encontra Baltasar: "Encontrou-o. Seis vezes passara por Lisboa, esta era a sétima." (pág. 372). De notar que o sete é número da Completude, da Totalidade; logo, represente um ciclo que se fecha para se iniciar um outro .

 

 * Baltasar estava a arder numa fogueira da Inquisição, exatamente no mesmo auto-de-fé em que foi supliciado também o escritor António José da Silva, "O Judeu": "São onze os supliciados. A queima já vai adiantada, os rostos mal se distinguem. Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda (página 373).

 

 * E Blimunda vê que "uma nuvem fechada está no centro do seu corpo". Então, recolhe essa nuvem fechada, que mais não era do que a vontade do seu amado: "Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda" (pág. 373). De forma simbólica, Blimunda recupera, deste modo, a sua razão de viver, a sua Unidade perdida.

JMS

 

 

369-373

 

Escrito e publicado por

Joaquim Matias da Silva

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© Joaquim Matias 2008/2014

 

 

 

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