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* D. João V diverte-se a
montar a Basílica de S. Pedro – "A basílica de
S. Pedro já não tem segredos para D. João V.
Poderia armá-la e desarmá-la de olhos fechados"
(pág. 287) – e tenta convencer os filhos Maria
Bárbara e José a ajudá-lo, o que eles fazem sem
grande vontade.

* A princesa Maria
Bárbara, com a idade, ficará muito desfigurada
pelas bexigas, "mas têm as princesas tanta
sorte que não perdem casamento por serem
bexigosas e feias", ironiza o narrador
(página 288).
* De forma caprichosa e
megalómana, D. João V deseja
construir na corte uma igreja como a de S.
Pedro, em Roma. Para isso, mandou chamar o
arquiteto de Mafra, João Frederico Ludovice. No
entanto, este último tenta dissuadir o rei dos
seus propósitos –
"A vontade de vossa majestade é digna do grande
rei que mandou edificar Mafra, porém, as vidas
são breves, majestade, e S. Pedro, entre a
bênção da primeira pedra e a consagração,
consumiu cento e vinte anos de trabalhos e
riquezas, vossa majestade, que eu saiba, nunca
lá esteve, julga pelo modelo de armar que aí
tem" (página 290).
*
Resignado com a impossibilidade de realizar o
seu capricho, D. João V resolve aumentar a
dimensão do convento de Mafra para 300 frades – "Enfim o rei bate na
testa, resplandece-lhe a fronte, rodeia-a o
nimbo da inspiração, E se aumentássemos para
duzentos frades o convento de Mafra, quem diz
duzentos, diz quinhentos, diz mil, estou que
seria uma acção de não menor grandeza que a
basílica que não pode haver. O arquitecto
ponderou, Mil frades, quinhentos frades, é muito
frade, majestade, acabávamos por ter de fazer
uma igreja tão grande como a de Roma" (páginas 291-292).
*
Conversa de D. João V com o guarda-livros sobre
as finanças portuguesas. O panorama traçado pelo
guarda-livros sobre a situação económica
portuguesa não é muito optimista: "Se vossa
majestade me perdoa o atrevimento, eu ousaria
dizer que estamos pobres e sabemos, Mas, graças
sejam dadas a Deus, o dinheiro não tem faltado,
Pois não, e a minha experiência contabilística
lembra-me todos os dias que o pior pobre é
aquele a quem dinheiro não falta, isso se passa
em Portugal, que é um saco sem fundo, entra-lhe
o dinheiro pela boca e sai-lhe pelo cu, com
perdão de vossa majestade" (página
293-294).
*
Consciente de que "a sua vida será curta", D.
João V apressa a conclusão das obras – "e então
el-rei mandou apurar quando cairia o dia do seu
aniversário, vinte e dois de outubro, a um
domingo, tendo os secretários respondido, após
cuidadosa verificação do calendário, que tal
coincidência se daria daí a dois anos, em mil
setecentos e trinta. Então é nesse dia que se
fará a sagração da basílica de Mafra" (página
300).
* Para que a sagração da
basílica possa ser, efetivamente, feita a 22 de
outubro de 1730, D. João V procede a uma
mobilização geral de todos os operários do reino
(página 302).
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