Camilo Castelo Branco
Fernando Pessoa
José Saramago
Sttau Monteiro
Outros
José Saramago
 

MEMORIAL DO CONVENTO - Sequências narrativas

 

Capítulo

SEQUÊNCIAS NARRATIVAS Págs.

XIX

 

* As obras do convento prosseguem já há vários anos. 2500 carros de bois transportavam material para as obras!... (página 248).

 

* Durante muitos meses, Baltasar puxou e empurrou carros de mão, até que um dia, com uma boa ajuda de José Pequeno, foi promovido a boieiro (página 248).

 

* Já na qualidade de boieiro, vai a Pêro Pinheiro buscar a pedra  para a varanda do pórtico da igreja – "Em Pêro Pinheiro se construíra o carro que haveria de carregar o calhau" (pág. 249); "Era uma laje rectangular enorme, uma brutidão de mármore rugoso" (pág. 252).

 

* A pedra media 35 palmos de comprimento (cerca de 7,70 m), 15 de largura (por volta de 3,30 m) e 4 de espessura (aproximadamente 0,88 m). Mais tarde, colocada no lugar, ficará só um pouco mais pequena (7 x 3 x 0,64 metros). Chamar-se-á   "Benedictione", pesando, quando colocada na varanda do pórtico da igreja (já depois de lavrada e polida, portanto) 31.021 Kg!...

 

 

* O transporte da pedra até Mafra é árduo, perigoso, demorado – "Entre Pêro Pinheiro e Mafra gastaram oito dias completos" (página 273) – e doloroso – "Eeeeeeiii-ô, Eeeeeeiii-ô, Eeeeeeiii-ôo, todo o mundo puxa com entusiasmo, homens e bois, pena é que não esteja D. João V no alto da subida, não há povo que puxe melhor que este.” (pág. 257); "Tantas horas de esforço para tão pouco andar, tanto suor, tanto medo, e aquele monstro de pedra a resvalar quando devia estar parado, imóvel quando deveria mexer-se, amaldiçoado sejas tu" (páginas 262-263).

 

* Quatrocentos bois e seiscentos homens são utilizados na deslocação da pedra: "Vai ser uma grande jornada. Daqui a Mafra, mesmo tendo el-rei mandado consertar as calçadas, o caminho é custoso, sempre a subir e a descer, ora ladeando os vales, ora empinando-se para as alturas, ora mergulhando a fundo, quem fez as contas aos quatrocentos bois e aos seiscentos homens, se as errou, foi na falta, não que estejam de sobra" (página 259).

 

* As dificuldades do transporte culminam com a morte de Francisco Marques – "Distraiu-se talvez Francisco Marques, ou enxugou com o antebraço o suor da testa, ou olhou cá do alto a sua vila de Cheleiros, enfim se lembrando da mulher, fugiu-lhe o calço da mão no preciso momento em que a plataforma deslizava, não se sabe como isto foi, apenas que o corpo está debaixo do carro, esmagado, passou-lhe a primeira roda por cima, mais de duas mil arrobas só a pedra, se ainda estamos lembrados." (pág. 268).

 

* Esta epopeia do transporte da pedra de Pêro Pinheiro até Mafra (distância de três léguas, ou seja, cerca de 15 km), serve de pretexto para mais uma crítica do narrador, no seu papel de comentador interventivo: "Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz" (página 266).

 

* A entremear esta história do transporte da pedra há uma outra: a história do ermitão e da rainha, contada por Manuel Milho (páginas 260-262; 263-266; 273).

JMS

 

 

247-274

 

Escrito e publicado por

Joaquim Matias da Silva

Voltar

 

© Joaquim Matias 2008/2014

 

 

 

 Páginas visitadas