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* Reflexão crítica sobre o valor da
justiça em Portugal, que anda "com a sua
venda nos olhos, a sua balança e a sua espada
(...). Dos julgamentos do Santo Ofício não se
fala aqui, que esse tem bem abertos os olhos, em
vez de balança um ramo de oliveira, e uma espada
afiada onde a outra é romba e com bocas"
(página 195).
* Num naufrágio no Tejo,
de regresso de uma caçada, morre o infante D.
Miguel, irmão do rei. O outro infante, o malvado
D. Francisco, o que arrastava a asa à rainha,
cobiçava o trono e espingardeava sobre os
marinheiros que andavam nos mastros, esse
salvou-se, "quando honrada justiça seria o
contrário" (página 196).
* O rei perde a demanda em
que andava a coroa com o duque de Aveiro, desde
1640, pelo que terá de devolver a quinta em S.
Sebastião da Pedreira, local onde a passarola
foi construída (página 196).

* A passarola, entretanto,
está construída e o Pe. Bartolomeu manifesta a vontade
de experimentar a máquina para,
depois, a apresentar ao rei (pág. 197).
* O padre Bartolomeu
Lourenço revela os seus temores da Inquisição,
pois o voo é entendido como arte demoníaca. –
"Um balão é nada, (...) voe agora a máquina e
talvez que o Santo Ofício considere que há arte
demoníaca nesse voo, e quando quiseram saber que
partes fazem navegar a máquina pelos ares, não
poderei responder-lhes que estão vontades
humanas dentro das esferas" (pág. 193).
* O Padre critica o Santo
Ofício e pensa que o rei também se lhe submete -
"El-rei, sendo caso duvidoso, só fará o que o
Santo ofício lhe disser que faça" (página
178).
* Preparativos para o voo
da passarola. Apelo ao anjo S. Custódio (páginas
179-200).
*
Concretização da viagem da passarola voadora
pelo padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda –
"Agora, sim, podem partir. O padre Bartolomeu
Lourenço olha o espaço celeste descoberto (...)
A máquina estremeceu, oscilou como se procurasse
um equilíbrio subitamente perdido, (...) girou
duas vezes sobre si própria enquanto subia,
(...) erguendo a sua cabeça de gaivota,
lançou-se em flecha, céu acima (...) Ah, e
Baltasar gritou, Conseguimos" (págs.
2002-203).
* Mais uma vez,
Bartolomeu, Baltasar e Blimunda são
identificados com a santíssima trindade - "O
padre veio para eles e abraçou-se também,
subitamente perturbado por uma analogia, assim
dissera o italiano, Deus ele próprio [padre],
Baltasar seu filho, Blimunda o Espírito Santo"
(página 203).
* A passarola sobrevoa
Lisboa e Bartolomeu vê do alto os oficiais do
Santo Ofício a dirigirem-se para sua casa para o
prenderem (página 204).

*Scarlatti atira o cravo
para um poço da quinta para não ser perseguido pelo
Santo Ofício (página 205).
* Ninguém repara na
passarola, excepção feita a uma mulher que, no
restolho, com um homem por cima, julga, em pleno
ato de amor, estar a ter visões (página 207).
*
A passarola passa sobre Mafra – "O vento mudou
para sudeste (...) Estão os três voadores à proa
da máquina, vão na direcção do poente (...)
É
Mafra (...) Baltasar grita, É a minha terra,
reconhece-a como um corpo. Passam velozmente
sobre as obras do convento, mas desta vez há
quem os veja, gente que foge espavorida, gente
que se ajoelha ao acaso e levanta as mãos
implorativas de misericórdia, gente que atira
pedras, o alvoroço toma conta de milhares de
homens, quem não chegou a ver duvida, quem viu
jura e pede o testemunho do vizinho, mas provas
já ninguém as pode apresentar, porque a máquina
afastou-se na direcção do sol, tornou-se
invisível contra o disco refulgente, talvez não
tivesse sido mais que uma alucinação, já os
cépticos triunfam sobre a perplexidade dos que
acreditaram" (pág.
208).
* Final da viagem num sítio desconhecido. O padre
Bartolomeu Lourenço, num ato de desespero, com
medo da Inquisição, incendeia a máquina – "Está doente o padre
Bartolomeu Lourenço, não parece o mesmo homem"
(página 207).
* Baltasar e
Blimunda impedem a destruição completa da
máquina - "havia um clarão como se o mundo estivesse
a arder, era o padre com um ramo inflamado que
pegava fogo à máquina (...) Baltasar cobria com
terra a fogueira (...) Por que foi que deitou
fogo à máquina (...) Se tenho de arder numa
fogueira, fosse ao menos nesta" (pág. 207).
*
Bartolomeu Lourenço desaparece e Blimunda e
Baltasar regressam a Mafra, depois de camuflarem
com ramos das moitas, na serra do Barregudo, o
que restou da máquina voadora – "O padre Bartolomeu
Lourenço não voltou (...) Levaram dois dias a
chegara Mafra" (págs. 213-214).
*
Chegada de Baltasar e Blimunda, dois dias
depois, a Mafra, após terem feito um largo
rodeio, para fingir que vinham de
Lisboa.
*
Procissão em Mafra, em honra do Espírito Santo,
que sobrevoou as obras da
basílica, abençoando-as, como acreditavam os
habitantes da localidade (página 214).
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