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QUINTO IMPÉRIO -
PORQUÊ QUINTO?
Para Pessoa, a
esperança do Quinto Império, tal qual em
Portugal a sonhamos e concebemos, não se ajusta,
por natureza, ao que a tradição figura com o
sentido da interpretação dada por Daniel ao
sonho de Nabucodonosor. E porquê? Porque, de
acordo com tal interpretação, esses impérios
eram materiais e sucederam-se segundo
esta ordem: o Primeiro foi o da Babilónia; o
Segundo o da Pérsia; o Terceiro o da Grécia e o
Quarto o de Roma. |
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Sob este ponto de vista, o Quinto
Império, dizia Pessoa, poderia ser plausivelmente o da
Inglaterra (nos tempos mais recentes, poderia ser o dos
Estados Unidos da América, ou o da União Soviética, ou o
do Japão, ou o da China…)
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Não é porém assim, escreve
Pessoa, no esquema português, que sendo
espiritual, em vez de partir, como naquela
tradição, do Império material da Babilónia,
parte, antes, como a civilização em que vivemos,
do Império espiritual da Grécia, origem do que
culturalmente somos.
Os quatro primeiros
Impérios seriam, de acordo com esta 2.ª versão,
o da Grécia, o de Roma, o da Cristandade e o da
Europa, especificando Pessoa que se tratava de
Europa laica de depois da Renascença.
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Quanto ao Quinto, acrescenta,
nós o atribuímos a Portugal, para quem o esperamos, para
tal se fundando nas quadras de Nostradamus e nas trovas
do Bandarra.
O Quinto Império visionado por
Pessoa não será, pois, um Império material, um Império
territorial, muito embora Portugal tivesse imposto a sua
presença nos cinco continentes (América – Brasil; África
– Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Guiné, Cabo
Verde…; Ásia – Goa, Damão, Diu, Macau, Timor...; Oceânia – Australásia, Malásia, Melanésia e Polinésia, ilhas do
Pacífico que despertaram a apetência comercial dos
portugueses do séc. XVI),
desde os reis da Casa de Avis, até ao séc. XX.
Quanto a este ponto, Fernando
Pessoa foi bem explícito em diversas ocasiões, como por
exemplo na entrevista dada a Augusto da Costa, em 1934:
Portugal não tem condições, nem para ser uma grande
potência guerreira, nem para ser uma grande potência
económica, mas tem-nas, sim, para ser uma grande
potência construtiva ou criadora, um Império espiritual,
um Império da Cultura.
Publicado
por
Joaquim Matias da Silva
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